O vento cortava como uma lâmina pelas trincheiras rasas da Frente Oriental. Ivan Petrov, um camponês de 24 anos recrutado à força pelo Czar, enterrava os dedos congelados no fuzil enferrujado. Há dois anos, ele via seus amigos morrerem de balas alemãs, de fome ou de gangrena. E por quê? Nem os oficiais sabiam responder.
Naquela noite, enquanto compartilhava um naco de pão mofado com Dimitri, um operário de Moscou, ouviu pela primeira vez as palavras que mudariam sua vida:
Ivan olhou para o papel, mal conseguindo ler as letras — afinal, que educação um filho de camponeses analfabetos poderia ter? Mas as figuras falavam por si: operários quebrando correntes, soldados fraternizando com inimigos.
Três semanas depois, quando o tenente Voronov ordenou um ataque suicida contra as metralhadoras alemãs, algo estalou.- Um silêncio pesado caiu sobre a trincheira. Então, um a um, os soldados abaixaram as armas. O tenente, pálido, sacou a pistola, mas Dimitri o derrubou com uma pá
Desertando em comboios clandestinos, Ivan e Dimitri juntaram-se a milhares de soldados famintos que marchavam para a capital. Nas estações de trem, panfletos de Lênin circulavam de mão em mão:
Quando chegaram a Petrogrado em fevereiro de 1917, a cidade estava em chamas. Operárias têxteis, soldados amotinados e camponeses saqueavam armazéns do governo. O Soviete de Petrogrado, liderado por Trotsky, já controlava as fábricas.
Na noite de 25 de outubro (7 de novembro no calendário gregoriano), Ivan estava entre os Guardas Vermelhos que invadiram o Palácio de Inverno. Não houve grande batalha — apenas ministros assustados e um tesouro de vinhos roubados do povo.
Quando o canhão do Aurora ecoou sobre o rio Neva, Ivan segurou uma bandeira vermelha ensopada de neve derretida e sangue. Lembrou de seu pai, morto por não pagar impostos ao latifundiário. Lembrou de sua irmã, vendida como serva aos 12 anos.
Anos depois, Ivan não mais empunhava um fuzil contra alemães, mas contra os Brancos — czaristas e capitalistas financiados pela Inglaterra e França. Em Tsaritsyn (hoje Volgogrado), onde a fome era tanta que se comia ratos, ele encontrou Dimitri morto, fuzilado por traidores
"As revoluções são as festas dos oprimidos e explorados! V. I. Lenin